A Cidade do Salvador, a partir dos anos 30 do século XX, acompanhou os movimentos que traduziram a "modernidade", "futurismo" ou "internacionalismo", interpretando de forma tímida suas linguagens, partidos e soluções sem, contudo, patentear a sua produção regional.

O estilo art déco manifestou-se, predominantemente, em edifícios públicos; a Bauhaus esteve presente no Instituto do Cacau, associada ao nativismo marajoara; o proto-modernismo cubista personificou residências da burguesia local; o racionalismo de Le Corbusier ganhou status oficial com o Hotel da Bahia, marcando presença na verticalização da cidade; o brutalismo definiu o Centro Administrativo da Bahia, descartando qualquer revestimento que mascarasse a arquitetura; a caixa de vidro conquistou o mercado financeiro e a pós-modernidade deconstrutivista ensaiou passos sem sucesso nesta cidade que adotou a linguagem barroca como sua maior expressão e iniciou o século XX com uma arquitetura alegórica e eclética.

Fernando Peixoto graduou-se pela FAUFBA nesse contexto regional e histórico. Homem culto, sensível, polêmico e ousado buscou desenvolver a sua arquitetura com personalidade, adequando-se à sua contemporaneidade e explorando uma tendência plasticista que permeia entre o cubismo, a op-art e o vanguardismo estético de Mondrian, no campo da pintura, enquanto concepção de planos e linhas que harmonizam cores vibrantes, contrastando-as. Sua arquitetura explora volumes, cores, texturas, planos, materiais e efeitos de luz e sombra. O telhado desaparece para que seus volumes sobressaiam em variáveis níveis, definindo os espaços internos na composição externa.

Na arquitetura horizontal, Fernando Peixoto brinca com lajes, transparências em vidro blindex, cores, pedras, tijolos, cerâmicas, madeiras, pergolados. Integra jardins; no entorno, suspensos ou contidos, valorizando o paisagismo tropical e projeta planos no interior com escadas bem lançadas, mezaninos, espaços vazados e interligados, numa concepção purista, luminosa, harmoniosa. Na arquitetura vertical, brinca com os brises, combogós, revestimentos cerâmicos, cores fortes e contrastantes, ousadas, irreverentes mas, acima de tudo, belas, equilibradas, na dosagem exata do criador talentoso.
Sua obra marca presença, define linguagem, incita seguidores que se perdem na tentativa de copiá-lo sem, jamais, atingir o seu nível de criação e composição. Seu traço confunde o expectador, direcionando-o por diagonais, linhas que se cruzam, cores que contrastam e se somam, escondendo vãos, disfarçando volumes, criando tecidos que mesclam cores, texturas e brilhos. Sua arquitetura transforma a paisagem urbana e assume a linguagem do outdoor, marcando presença, definindo conceitos, fazendo história.

Fernando Peixoto cria, inova, ousa, realiza, incomoda, transforma, marca presença, polemiza. Seu talento é nato, sua inteligência é vibrante, sua cultura é universal, sua prosa é agradável, seu traço é marcante, sua obra é personalíssima.

Francisco Senna



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