Por séculos a povoação da cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos fez surgir uma paisagem das mais originais na América Portuguesa. Por suas ruas estreitas, ladeiras, largos, praças, morros e escarpas, construções arquitetônicas com características muito próprias deu a cidade do Salvador uma identidade ímpar e harmônica entre esse conjunto e sua localização geográfica. Igrejas, conventos, palácios, sobrados, casas são o significado histórico e artístico do desenvolvimento econômico, social e cultural da nossa colônia e da civilização luso-brasileira. Ao passar dos séculos a cidade se estendeu e conquistou novos espaços urbanos transformando a pacata cidade numa metrópole moderna trepidante e ruidosa dos tempos atuais.

Um arquiteto como Fernando Peixoto teve fundamental importância na transformação dessa nova estética que configura hoje a arquitetura verticalizada baiana, esses novos edifícios de inquietantes fachadas surgem como esculturas em monoblocos metálicos. Porque para Fernando Peixoto arquitetura vai além do desenho, do desenvolvimento do espaço e suas utilidades orgânicas internas. Ele une isso e vai além na procura da forma, de exteriorizar uma nova apreensão da fachada, ou das fachadas em suas múltiplas dimensões, e assim ele intervém na paisagem que deixa pairar sobre a arquitetura de planos, formas, cortes, agindo como um constante grito do novo, do articulado. Da articulação urdida pela unidade da linha e do volume. Uma combinação construtiva que se articula ainda com o movimento e a luz nesta geometria simétrica.

Com tudo isso ele inventou uma nova fachada arquitetônica na paisagem urbana de Salvador, é certo também que esses módulos arquitetônicos se harmonizam como um todo, criando assim um diálogo palpitante entre a forma, e suas alternâncias e deslocamentos.

Ainda é certo que ele é um arquiteto refinado e cada vez mais seus sutis desdobramentos da superfície , da cor e suas variações provocam um novo olhar.

Rebelde e metódico, ele sabe harmonizar os fundamentos da arquitetura, e suas funções e dimensões propõem uma nova interação entre a paisagem e esses caleidoscópios de blocos luminosos.


Emanoel Araújo
 
Cidade de geografia privilegiada, beijada pelas águas do Atlântico e primeira capital da América Portuguesa, São Salvador da Bahia é peculiar por tudo que dela se conta e se formou. Desde seus primórdios que o traço se fez presente, saído das mãos do arquiteto Luís Dias, que aqui desembarcou para dar o jeito urbano lusitano à cidade-primeira da terra do pau-brasil, horizonte de esperança e bons olhos para os vindos de além-mar.

Desde então a Cidade da Bahia incorporou projetos que a tornaram um sítio arquitetônico permeado por muita história, movimentos que lhe adensaram uma base étnica e cultural das mais ricas e férteis. Essa tradição teria continuidade nos anos seguintes, com outros projetos, outros contextos, na marcha de uma cidade fadada a ter uma identidade singular.

Entre esses nomes está o de Fernando Peixoto. Sua assinatura se eterniza, num jogo de cores e formas que mudaram conceitos e a própria imagem da cidade. Fernando incorpora a própria essência da baianidade, respira e transpira os elementos que compõem a cidade, manipula as cores usando o recurso dos contrastes, gerando com isso percepções de volume e relevo. Puro exercício de criatividade. Criativo e ao mesmo tempo racional, Fernando sonha e  idealiza permanentemente, uma verdadeira usina de idéias que o torna acima dos padrões convencionais. Ele é daquelas personalidades que marcam seu tempo e até mesmo o transcendem. Olhar para Fernando e seus projetos, realizados ou idealizados, é ter a certeza de que a relação do homem com seu ambiente, lidando com os objetos e artefatos que com ele interagem, deve extrapolar o conceito da simples funcionalidade e mergulhar no oceano dos sonhos e da imaginação, tão rico e belo quanto aquele que abraça São Salvador, terra de Fernando Peixoto, terra de todos os ritmos, formas e cores.

Luciano Araújo
Diretor da Dismel
 
A arte não tem limites.

Com maestria, Sílvio Robatto valendo-se do recurso eletrônico traduz, em sua visão peculiar, a obra da arte arquitetônica de Fernando Peixoto que deu um aspecto futurista à banda moderna da velha Salvador, a Cidade da Bahia, demonstrando como simplicidade, adequação cultural, qualidade e beleza, aliados a racionalidade de custos de construção, formam a verdadeira essência da modernidade.

O registro das formas, traços e cores que revolucionaram as fachadas de prédios comerciais e de escritórios , fazem a beleza da edição deste livro. Um livro de arte, com poucas palavras e muitas imagens resultantes do tratamento digital de fotografias convencionais, mostrando um conceito inovador da arquitetura contemporânea que reafirma a força criativa da Bahia, sempre presente nos movimentos culturais e artísticos.

Paulo Gaudenzi
Secretário da Cultura e Turismo

Ciência da Cor

3/16/2012

 
De qualquer forma, o que num primeiro momento nos interessa é, ao reestudar as tendências das civilizações no passado, no presente, fazer um movimento como uma parasitória, uma parapsicologia. O que acontece com essa releitura? A cor é um tema transversal, um tema que cruza todos os temas, e que permite uma releitura de tudo, desde que visto como logos. Ela corta todas as ciências, todas as humanidades, as artes e revê tudo isso. Rever, reler, é isso que está nos interessando mais. Como é que o mundo se comporta de fato frente à cor?

A arte de hoje, por exemplo, tende a se exprimir em preto e branco. A arte, de alguma forma, está compromissada com a ideologia. Quando fazemos arte cromática como é o caso do design, como é o caso das escolas italianas de design que trabalham muito com cor, elas não estão mais utilizando a cor como um sinal indicativo, ela não quer mais significar algo, ela perdeu esse significado, ela deixou de ser esse elemento que fala, e passou a ser um elemento totalmente caótico. Veja o que acontece nas nossas metrópoles, cor para tudo que é lado, na nossa moda, a cor está destituída de sentido, de significado. Isso de certa forma é como uma volta ao movimento do século XIX, uma higienização.

A carência e o excesso são as duas faces da desinformação.

Ou se deixa de usá-la, como na moda do século XIX, ou começa-se a usá-la ao extremo, como acontece hoje, sem sentido.
Essa perspectiva da Casa da Cor, de trabalhar a cor como fenômeno cultural, você a vê como um corte nas pesquisas sobre cor? Ou ela faz parte hoje de um movimento mais amplo?

É muito raro encontrar estudos pelo mundo que se interessem pela cor como fenômeno cultural. Encontram-se coisas raríssimas. Costumo citar muito a lingüística porque ela discerne uma polêmica muito grande que é aquela de que um povo não nomeia uma cor e portanto não a vê. Ou não? Não nomear é não ver? Essa polêmica se estabeleceu em duas obras que se preocuparam com a relação cor/palavra, duas obras e só. Uma foi feita na França, chama-se Voir et Nommer les Couleurs, de Serge Tornay; outra foi feita nos Estados Unidos e se chamaBasic Colour Terms, de Pau Klay e Berlin Brent. Essa pesquisa sobre como as populações nomeiam ou nomearam as cores é parca, pobre, e vive apenas desses dois estudos.

"Por um motivo ou outro, o mundo não se debruçou suficientemente sobre o fenômeno cor, como fenômeno cultural".

A filosofia desde sempre se desinteressou pela cor. E qual não foi minha surpresa ao encontrar um livro de Wittgenstein sobre cor chamado Remarks on Colour. Por um motivo ou outro, o mundo não se debruçou suficientemente sobre o fenômeno cor, como fenômeno cultural. Não conheço trabalhos similares, nem preocupações similares à da Casa da Cor. Tenho visto, ao contrário, um recrudescimento de investimentos maciços em colorimetria, o que interessa muito à indústria. É claro, ela trata de um grande problema, a repetibilidade das cores. Mas, se ainda existem divergências culturais pelo mundo, de que adianta repetir tal cor se ela não vai ser lida da mesma forma por outra cultura? A ciência da cor é uma área vasta e abrangente e não apenas a menção dos componentes da cor. A Casa da Cor, parece-me, é a única iniciativa que está com essa visão. Queremos abordar a cor como um pretexto para rever tudo. Eu não diria que é um corte cultural. Se o sujeito volta a ter importância, no sentido de que ele modifica o que observa, a cor é um índice fantástico para medir isso. Se o sujeito está no lugar a lhe ser devolvido, nosso tema é fantástico para estudar o fluxo cultural do momento. Se a leitura do sujeito altera a cor, isso permite estudar de que forma vender bem automóveis se deve a uma escolha de cores pensando em como tal cultura vai reagir a tais produtos. Por outro lado, se você supõe um design ou uma arquitetura imateriais, imagine a importância da cor nesse contexto. Ela é atualmente o único elemento capaz de formar impressões de volume, distância, relevo. É ela que indica e sinaliza. E, sem dúvida, homens que trabalham o design, os designers revolucionários como, por exemplo, da Alchimia na Itália, são designers que têm que se preocupar com a linguagem da cor, obrigatoriamente.


Fernando Peixoto

Três Motivos

3/16/2012

 
São três os motivos que me levam a usar a cor. Primeiramente, porque é um dado mais universal do que a forma, por ser a cor sensorial e não cultural, como a forma. Em segundo lugar, porque o Brasil tem fartura de luminosidade. E, finalmente, por não onerar os custos e proporcionar maior liberdade de manipulação da imagem. Minha meta é o contraste entre as cores. Não tenho predileção por uma cor específica. Uso cores fortes e vivas, mas o branco e o cinza, por exemplo, são muito presentes nas minhas obras. Também uso muito o sentido diagonal, uma influência da estética africana. Essa inspiração vem das artes gráficas, no que diz respeito às linhas bem demarcadas. Talvez em outras partes do Brasil meu trabalho não tivesse a força e o apelo que possui na Bahia.

Fernando Peixoto