O Movimento Moderno, há meio século, colocou algumas questões fundamentais que àquela altura revigoraram o meio arquitetônico, marcando o espaço cotidiano até hoje. Entre elas, a questão mais interessante, demonstrativa de uma mudança de objetivos e preocupações, era a da habitação. A habitação para todos, a vida coletiva nela implícita, a liberação de espaço conquistada pela edificação em altura geraram as bases teóricas e arquetípicas que se constituíram em um modelo, estabelecendo uma tipologia que se espraiou, atingindo o canteiro de obras, a legislação e a indústria da construção civil.
Hoje, repete-se a habitação tradicional, mais ou menos adaptada às últimas normas sócio-econômicas, amesquinhando o modelo modernista. Em contrapartida, seja na área da biogenética, no aumento dos divórcios, no processo de terceirização acelerada, ou no surgimento do videotexto, das fibras ópticas, da robótica, o campo de transformações sociais é imenso. As noções de tempo, limite e proximidade vêm se transformando rapidamente, obrigando-nos a repensar a urbanidade que alcança todos os setores de atividade, representando, talvez, o fim da dicotomia campo/cidade. Já o computador associado à imagem se coloca como uma “antecâmara para o mundo,” dando novo sentido às relações público/privado.
Era de se esperar que o edifício de alto padrão refletisse essas mudanças. Afinal, esse é um espaço livre de parâmetros constrangedores: dinheiro não é problema, a falta de informações também não, a tecnologia pode quase tudo e está a seu alcance. Mas assistimos nestes últimos tempos às transformações dos espaços para indústria e escritório, que, em sua busca de flexibilidade e absorção de novas tecnologias, vêm se alterando em consonância com as mudanças do próprio trabalho, acentuando mais e mais a estagnação da habitação.
A personalização de um apartamento parece uma proposta condizente com o mundo atual, onde é patente a crescente individualização e busca de identidade. Mas a personalização só faz sentido se for capaz de refletir o modo de vida específico de uma personalidade específica. Portanto, deveria gerar espaços definidos por qualidades particulares: a alcova para quem gosta do escuro e não é claustrófobo; a possibilidade de dormir sob as estrelas como um duplex permitiria, um espaço tépido, para quem gosta de sombra e água fresca.
Essa proposta deixa de ser razoável se parte de uma personalização estereotipada, cujas respostas são soluções impróprias, pouco pertinentes – personalizações do detalhe, do tratamento do espaço um banheiro acarpetado, um torno de microondas programável para quem tem empregada e mordomo, uma sala dita íntima que só é passagem para os quartos. E a concepção do espaço? É válida para todos, bastando para isso apenas acabamentos diferenciados?
E tudo isso gera reflexos inescapáveis: o edifício é forçosamente concebido como casca, exatamente como nos prédios de escritórios, mas, mais exigente, faz questão da hidráulica também flexível para que as áreas molhadas não sejam fixadas. A construção do edifício volta a um processo artesanal obrigando a um gerenciamento de projetos e a uma racionalização da obra precisos, sob pena de inviabilizá-la.
Enfim, fica ainda a pergunta de que habitação o mundo contemporâneo necessita? Porque o mundo, este mudou.
Brandão De Oliveira
Hoje, repete-se a habitação tradicional, mais ou menos adaptada às últimas normas sócio-econômicas, amesquinhando o modelo modernista. Em contrapartida, seja na área da biogenética, no aumento dos divórcios, no processo de terceirização acelerada, ou no surgimento do videotexto, das fibras ópticas, da robótica, o campo de transformações sociais é imenso. As noções de tempo, limite e proximidade vêm se transformando rapidamente, obrigando-nos a repensar a urbanidade que alcança todos os setores de atividade, representando, talvez, o fim da dicotomia campo/cidade. Já o computador associado à imagem se coloca como uma “antecâmara para o mundo,” dando novo sentido às relações público/privado.
Era de se esperar que o edifício de alto padrão refletisse essas mudanças. Afinal, esse é um espaço livre de parâmetros constrangedores: dinheiro não é problema, a falta de informações também não, a tecnologia pode quase tudo e está a seu alcance. Mas assistimos nestes últimos tempos às transformações dos espaços para indústria e escritório, que, em sua busca de flexibilidade e absorção de novas tecnologias, vêm se alterando em consonância com as mudanças do próprio trabalho, acentuando mais e mais a estagnação da habitação.
A personalização de um apartamento parece uma proposta condizente com o mundo atual, onde é patente a crescente individualização e busca de identidade. Mas a personalização só faz sentido se for capaz de refletir o modo de vida específico de uma personalidade específica. Portanto, deveria gerar espaços definidos por qualidades particulares: a alcova para quem gosta do escuro e não é claustrófobo; a possibilidade de dormir sob as estrelas como um duplex permitiria, um espaço tépido, para quem gosta de sombra e água fresca.
Essa proposta deixa de ser razoável se parte de uma personalização estereotipada, cujas respostas são soluções impróprias, pouco pertinentes – personalizações do detalhe, do tratamento do espaço um banheiro acarpetado, um torno de microondas programável para quem tem empregada e mordomo, uma sala dita íntima que só é passagem para os quartos. E a concepção do espaço? É válida para todos, bastando para isso apenas acabamentos diferenciados?
E tudo isso gera reflexos inescapáveis: o edifício é forçosamente concebido como casca, exatamente como nos prédios de escritórios, mas, mais exigente, faz questão da hidráulica também flexível para que as áreas molhadas não sejam fixadas. A construção do edifício volta a um processo artesanal obrigando a um gerenciamento de projetos e a uma racionalização da obra precisos, sob pena de inviabilizá-la.
Enfim, fica ainda a pergunta de que habitação o mundo contemporâneo necessita? Porque o mundo, este mudou.
Brandão De Oliveira